In “Observador”, 21 de janeiro 2025
A iniciativa Capitais Europeias da Cultura, criada em 1985, sob a égide de Melina Mercouri, Ministra da Cultura da Grécia, tem desempenhado um papel transformador no panorama cultural europeu. Este programa, que visa promover o património cultural e fomentar o desenvolvimento social e económico das cidades galardoadas, atribui-lhes a grande responsabilidade de demonstrar o papel da cultura enquanto catalisador de desenvolvimento sustentável. A Cultura tem um potencial económico, turístico e social e é um fator diferenciador da atratividade territorial. Depois de Lisboa (1994), Porto (2001) e Guimarães (2012), agora é a vez de Évora assumir este desafio, tornando-se a quarta cidade portuguesa a receber este título, em 2027.
A caminhada de Évora rumo a 2027 tem sido marcada por desafios, mas também pela resiliência e dedicação das entidades envolvidas. Neste sentido, as minhas reuniões com a Senhora Ministra da Cultura, com o Presidente da Câmara Municipal de Évora e com a Direção da Associação Évora 2027, no final do ano de 2024, permitiram-me confirmar o empenho e a determinação de todas as partes em concretizar o Bidbook (o documento estruturante da candidatura) e em assegurar que os objetivos propostos serão atingidos com qualidade e rigor.
Embora nós, portugueses, sejamos conhecidos pela tendência para adiar decisões, também somos reconhecidos pela nossa capacidade para transformar pressão em resultados de excelência. Esta característica, tão específica do panorama nacional, reflete-se no provérbio popular “Devagar, que temos pressa!”, o qual remete para a disciplina militar, particularmente em situações onde a pressa era um risco, mas a ação rápida, precisa e bem executada era fundamental. Salvo melhor opinião, este provérbio aplica-se ao caso de Évora 2027.
O tema identitário do programa Évora 2027, “Vagar”, manifesta de forma exemplar a essência cultural do Alentejo. Este conceito, que transcende a mera ideia de lentidão, reflete uma filosofia de vida que privilegia a reflexão, a contemplação e o tempo necessário para criar, apreciar e conectar, indissociável da criação e produção artística e cultural de excelência. Numa era marcada pelo imediatismo, o conceito do “Vagar” propõe um regresso ao tempo próprio das coisas do humano, dos ciclos da natureza e da lonjura da planície, onde a qualidade prevalece sobre a velocidade, um lugar de encontro e de construção de novos equilíbrios. Este princípio irá orientar as iniciativas culturais do programa, bem como a visão estratégica de Évora enquanto Capital Europeia da Cultura, conciliando a valorização da tradição, e do rico património cultural material e imaterial de Évora e do Alentejo, com a abertura à inovação.
No passado dia 15 de janeiro, tive a oportunidade de participar numa reunião com Marie Imbert, Team Leader da Coordenação das Capitais Europeias da Cultura na Comissão Europeia, e Sylvain Pasqua, seu antecessor. Na reunião tive a oportunidade de confirmar o firme compromisso da Comissão Europeia com este projeto, pois, reconhecem que a concretização do mesmo é de extrema relevância para Évora, para o Alentejo, para Portugal e para a própria União Europeia.
Com a colaboração estreita entre as entidades locais, nacionais e europeias, cumpriremos o desígnio referido no preâmbulo do diploma que criou a Associação Évora_2027: “A designação como Capital Europeia da Cultura em 2027 constitui uma oportunidade para a cidade de Évora e a região do Alentejo alcançarem um novo patamar de desenvolvimento cultural, social, económico e turístico, nomeadamente através da valorização da qualidade da vida urbana, qualificação do espaço público e patrimonial e da consolidação de uma oferta cultural e artística inovadora e criativa, da densificação do setor cultural, da promoção e valorização turística da cidade e da região e de projeção para a Europa e para o Mundo.”
Com o “Vagar” como fio condutor e o esforço conjunto de todos os intervenientes, Évora 2027 representa muito mais do que um título honorífico. É uma oportunidade de projetar a cidade e o Alentejo no contexto europeu, demonstrando o poder transformador da cultura enquanto alavanca de desenvolvimento. Este é o momento de virar a página, de olhar para o futuro e de trabalhar para que este legado perdure para além de 2027, valorizando o passado glorioso e lançando as bases para um futuro mais sustentável, aumentando a atratividade territorial da região.
A todos os Eborenses deixo uma mensagem final de parabéns pela distinção recebida e de confiança no excelente desempenho que presenciei de todas as partes envolvidas: Associação Évora_2027, Autarquia, Governo e Comissão Europeia; para que sejam alcançados os objetivos propostos.
Como bem nos ensina a sabedoria popular: “devagar se vai ao longe!”